26/07/2008

"Andares" à vista - Parte I

Ah, é fácil descer as escadas quando o elevador insiste indicar o 24º andar e tu está no 5º com muita pressa pra chegar lá em baixo.
Eu, particularmente, gosto de descer escadas. Principalmente a noite, quando o silêncio reina e o saltinho de minha sapatilha faz toc toc toc no piso espelhado.
Por falar em toc e descer escadas, foi numa noite de toc (mas esse é aquele transtorno) onde me vi impossibilitada de entrar na porcaria do elevador. Precisava subir até o 16º para pegar ingressos do show Biquini que a moradora do andar tinha feito o favor de comprar for me.
Na verdade verdadeira, não era bem um favor, por que ela me devia uma grana a algum tempo, quando nos encontramos na padaria, e ela queria levar carolinas pra casa. Agradar o namorido com doces. Disse que ela poderia comprar, depois a gente se acertava. Acertava só se fosse um tiro nela. Achei que ela compraria algumas carolinas, não quaze dois quilos e mais guloseimas e mais frios e guleiseimas e guloseimas e carolinas.
Pensei em pedir pra que ela descesse com os ingressos. Impossível. No mesmo momento, sua empregada, a Tilde, interfonou da portaria:
-Dari?
-Sim.
-É a Tilde. Dona Renata pediu pra que eu lhe esperasse pra lhe entregar uns papeizinhos...
-Hummm...
- Só que como eu sei que a senhora, opa, a senhorita chega tarde em casa, deixei eles escondidinhos no vaso que tem a espada se São Jorge do lado da porta do apartamento da Dona Renata.
-Se eu chego tarde, como está falando comigo?
-É que eu ia deixar o recado aqui na portaria, mas daí o Carlinhos me avisou que a senhora, senhorita, já tinha chegado.
Claro que eu quiz morrer de raiva né.
Se eu não estivesse em casa, ela diria ao porteiro que deixou meus ingressos num vaso com espada de sei lá quem?
Aquele Carlinhos, tem cara de periferia (sem preconceito), certamente, venderia por dez pilas os meus vips.
E senhora senhorita é a vovó dela. Não adianta querer demonstrar respeito absoluto. Apenas traga meus ingressos!
Bom, entrar no elevador não dava. Eu mal sabia como conseguiria dirigir com os vidros fechados. E juro por tudo que é mais sagrado, eu torcia pra que o show fosse adiado. Como eu conseguiria cantar "Me chama" no meio da multidão com a sensação de que meus tocs estavam voltando depois de anos de tratamento?
Se fosse católica, faria o sinal da cruz antes de sair por aquela porta. No lugar disso, peguei o celular e fui. O celular seria útil, já aconteceram outras vezes. Só que dessa vez eu fui mais esperta, deixei o número da minha amiga de plantão em discagem automática. Por que da última vez que pensei que um telefone móvel fosse me acudir, me dei muito mal. Eu não conseguia achar a agenda. Grande coisa. Fiquei presa num bazar na sessão de decoração. Não sei se eu estava assustada com os quadros pintados por aluninhos de jardim de infância, ou se realmente o toc de direita e esquerda ocorreu naquele momento. Até hoje não sei como fui parar naquele lugar horroroso.
Subi um, dois andares.
E minha sapatilha não era a unica barrulhenta por alí. As televisões também sussurravam. Alguns latidos. Era proibido animal de estimação no prédio, até que a filha da síndica ganhou um gato persa, o Mingau.
E foi no terceiro andar que a coisa desandou.

2 comentários:

Gilmar Gomes disse...

Ok... Isso vai ter um prosseguimento, né???
Toc toc... Lembrei daquele negócio de série americana (e filmes e etc) sobre piadas com Toc toc, quem é...? E nunca sei como termina ou qal a graça dessas piadas.
Mas o seu problema é coisa de rainha... Pois o Rei também tem.
Rei Roberto Carlos... São tantas emoções, bicha!

d. disse...

c vai ter um fim?
acho q vai...
o problema eh q naum consigo screver sobre a mesma coisa depois de um tempo....
kakakakak
claro q vai!
vlw pela visita....
\o/

 
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